Estava sentada olhando para a janela. Estava nervosa, muito nervosa. Como não estar? Ele estava atrasado. Ainda bem, pensava ela, assim poderia ter mais tempo para organizar as palavras na cabeça, o que iria falar? Estava sentada em um banco de uma lanchonete, no centro da cidade, tomando uma coca-cola, afinal, porque estava tomando uma coca-cola? Por que não pediu uma cerveja? Ela não sabia, pediu automaticamente, droga, deveria ter pedido cerveja, quem sabe o álcool a fizesse relaxar.
Olhou para a janela, ele vinha atravessando a rua. Mexeu as mãos, não podia tirar os olhos dele, Jesus, como ele era bonito, ela sempre o achou bonito, mesmo quando algumas amigas falava que ele nem era tão bonito assim, não concordava, ele sempre foi o cara perfeito pra ela. Ele entrou na lanchonete, vasculhou o lugar com os olhos e a encontrou, veio na direção dela, deu um beijo no rosto e um abraço acompanhado de “e aí? Como você está?” Ela sentiu todo o sangue do corpo dela indo para a cabeça, idiota! Por que ela tinha que ficar vermelha? Ele fingiu que não reparou, na verdade ele reparou no corpo dela, ele sempre parava o olhar no corpo dela. O que ela conseguia reparar é que ele usava a camiseta da banda preferida dela, cretino, deve ter feito de propósito.
- Fiquei surpreso quando você me ligou – falou ele de um jeito casual.
Ela riu nervosa, mal sabia ele que aquele telefonema foi à coisa mais difícil que ela já fez na vida.
A garçonete emburrada veio até a mesa perguntar se ele queria alguma coisa, ele pediu uma cerveja! Merda, ela devia ter pedido cerveja antes...
- Me ajuda a tomar? – perguntou ele.
- Aham.. – respondeu ela.
Ele a olhou nos olhos esperando que ela dissesse alguma coisa, afinal foi ela que ligou marcando o encontro.
É isso, ela vai ter que falar.
- Então... – começou ela sem jeito – Liguei porque vou viajar, por um tempo, queria me despedir, conversar sabe...
- Ah sim, fiquei sabendo da sua viagem, que bacana hein? Tenho certeza que vai ser demais...
- É... – ela sabia que ia ser demais, não era isso que ela queria falar...
- Então é que...
- Nossa deixa eu te contar....
E ele fez de novo, ele sempre cortava quando ela ia falar, sempre contando coisas super descoladas que acontecia com ele, sempre contando vantagem, sempre “sendo ele”. Ela o ouvia falar, falar, falar, e começava a pensar por que afinal de contas ela tinha o chamado ali? O que ela queria falar? Tudo, ela queria falar tudo...
- Nossa que legal ... – disse ela rindo sem prestar muita atenção no que ele falava.
- Aham, um tesão, e aí? Quando volta?
Ela ia responder, mais a garçonete trouxe a cerveja.
- Ainda não sei, vou ficar pelo menos um ano...
- Uau, que sensacional... Vou sentir saudades sua.
Ela teve vontade de jogar a cerveja na cara dele, quem era ele pra sentir saudades dela?
- Vamos fazer um brinde – ele levantou o copo – Ah sua viagem...
Os dois bateram o copo rindo.
- Sabe, eu sempre gostei da nossa amizade, mesmo a gente ter se envolvido no passado, a gente nunca deixou isso nos afastar – disse ele tomando um gole.
Ela ficou muda. Ah qual é? Ela que tinha chamado ele ali, ela tinha que falar...
- É então o curso que eu vou fazer lá é.... – desconversou ela.
Continuaram a conversar, sobre tudo, sem realmente falar nada. Foi se passando o tempo, ela sentia passar o tempo, o tempo que tinha com ele, e o que mais ela temia aconteceu, ele olhou as horas no celular e disse:
- Cara, vou ter que ir, tenho que ir...
- Ah tudo bem... – respondeu ela automaticamente.
- Muito bom te encontrar, que bom que você me ligou.
- É foi bom mesmo.
Ela mentiu.
- Quando você voltar vamos nos ver mais? Nos vimos tão pouco esses últimos meses...
- É verdade, vamos nos ver mais sim...
Ela mentiu novamente.
- Me dá um abraço aqui... – ele se levantou, foi até ela e a abraçou.
Ela não se permitiu sentir nada.
- Tudo de bom pra você... – falou ele.
- Pra você também...
Ele se virou. Estava indo em direção ao balcão para pagar. Ela se sentou, olhou ele, ele sempre ia embora, sempre.
- Me responde uma coisa? – disse ela um pouco alto para ele conseguir escutar.
Ele parou, se virou e deu alguns passos na direção dela.
- Fala...
- Por que você veio aqui hoje? – ela mal acreditava que estava falando aquilo.
Ele parou, olhou pra ela e disse:
- Por que você vai embora.
Foi quando finalmente ela entendeu, ela ia mesmo, ela finalmente ia embora.