domingo, 8 de agosto de 2010

Adeus.

Ele estava arrumando as malas no quarto.
Ela estava na sala, olhando fixamente para o porta-retrato que estava em cima da mesa.
Como tudo pode ter terminado desse jeito?
-Terminei. As outras coisas venho buscar depois.
Ele deixou as duas malas no chão, não sabia o que dizer.
- Se lembra dessa foto que tiramos? Essa que está em cima da mesa...
Ela precisava falar.
- Lembro... Férias na Argentina.
Ela riu.
- Seu espanhol sempre foi horrível.
- Pelo menos eu tentava falar outra língua.
Ela estremeceu.
- Não quero brigar.
- É melhor, se não vamos acabar dizendo coisas que não queremos dizer.
Ele pareceu sensato. Isso a irritou, na verdade sempre odiou a pose de dono da verdade que ele bancava, sempre a deixava como a idiota da história.
- O.k Pode ir embora.
Ela sentia que o ódio estava vindo.
- Vai ficar bem sozinha?
- Não preciso de você pra me proteger, Marcelo.
- Não quis ofender.
Mentira, ele queria ofender.
- Fica com o carro, vou de táxi.
- Não precisa.
- Para de ser orgulhosa Regina...
- Orgulhosa é o caramba, sei me virar sem você.
- Sabe mesmo é?
- Sei, seu babaca.
- Vai começar a fazer ceninha?
Pronto, ele conseguiu, conseguiu irritá-la de vez.
- Desculpa senhor “tenho autocontrole”, talvez eu não tenha essa inteligência emocional que você tenha, deve ter aprendido na faculdade de engenharia, mas a culpa é minha, afinal de contas existe coisa mais idiota que namorar um engenheiro?
- Você não vai querer entrar nesse papo de profissão Regina...
- Por quê?
- Deixa pra lá...
- Fale Marcelo, ou não tem coragem?
Pronto, ela conseguiu irritá-lo de vez.
- Porque você é um fracasso, uma atriz fracassada!
Ele a tinha magoado, ele sabia disso, se arrependeu.
- Olha desculpe, melhor ir embora.
Ela queria chorar, mas não na frente dele.
- Adeus.
Ele queria abraçá-la dizer que ela foi à melhor coisa na vida dele.
- Adeus.
Ele pegou as malas e foi embora.
Ela demorou algum tempo até conseguir se mexer. Andou alguns passos pegou o porta-retrato, deitou no sofá e o abraçou, dormiu lembrando um velho tango argentino, que ficava cada vez mais baixo.