Reviro-me na cama, quem sabe com a cabeça assim, os braços levantados, não, não, desconfortável, do outro lado, piorou. Três horas da manhã e eu acordada e atordoada. O pior da insônia são os pensamentos, parece que a mente abre uma porta e só começa mostrar cenas que você fez questão de esquecer-se durante o dia. Maldito inconsciente. A resposta veio como um suspiro, a solução estava na gaveta de calcinhas da minha mãe, é claro! Remédio para dormir. Eu só tinha que entrar no quarto sem fazer barulho, abrir o guarda-roupa, a gaveta e pronto. O.k, primeiro passo: sair da cama, devagar, a porta só ta encostada, ela está roncando, ótimo, guarda-roupa, droga de porta que faz um barulhinho chato, abrir a gaveta, no escuro é mais difícil, use o tato, quase podia sentir o cheiro do lexotan, se Deus inventou alguma coisa com certeza foi o remédio pra dormir, o sono dos justos, uma beleza. Opa, encostei em alguma cartela, não, essas pílulas são muito grandes, não é essa... Aí cadê? Quem sabe eu tome mais que um comprimido, o que poderia acontecer? No máximo entrar em coma ou morrer. O sono eterno entregar-me a ele, encontrar a morte em um sonho, sem Freddy Krueger, caminhando ao encontro do rio... Que rio? Tô lendo muito Virgínia Woolf...
- O que você tá procurando?
- Ah, oi mãe, tô procurando remédio pra dor de cabeça.
- Tá na outra gaveta.
- Hum... Tá bom.
- Acende a luz que você acha...
- Pronto, já achei. Boa noite.
- Boa noite.
É nem meus planos de suicídio dão certo.