quarta-feira, 16 de abril de 2008

A lembrança comunista.

O pai entra no quarto e encontra o filho embaixo do lençol fazendo movimentos repetitivos, de imediato pensa que tinha acabado de flagrá-lo “se divertindo sozinho”, mais logo percebe que tem alguma coisa estranha, já que o filho tem uma lanterna embaixo do lençol, a não ser que seu primogênito fosse um grande pervertido alguma coisa estava errada.
- Filho o que você está fazendo aí?
O filho se assusta, dá um pulo derrubando a lanterna e um livro de capa vermelha no chão.
- Que livro é esse?
- N-Nada pai, nada...
- Pornografia? Se for filhão tudo bem, isso é normal na sua ida...
Ele se cala, consegue ler o título do livro.
- Meu filho... Você... Você...
- Calma não é nada disso que você está pensando...
- VOCÊ ESTAVA LENDO O MANIFESTO COMUNISTA?
- Pa-pai calma, fique calmo, só estava...
- Seu desgraçado eu pensado que você estava se masturbando e você lendo “isso”? Por que meu deus por quê?
O pai começa a erguer as mãos para cima olhando para o teto.
- Você não pode me impedir – fala o filho reunindo toda a coragem que tinha.
- Não posso é? Não posso? Quer ser um maldito vermelho? Tudo bem, mais sabe aquele vídeo-game que me pediu de natal? Esqueça, até porque isso deve ser muito capitalista não é mesmo?
- Não, quer dizer eu acho que...
- A partir de agora você está de castigo, entendeu?
- Pai...
O pai não estava mais ouvindo, saiu do quarto, começou a caminhar pelo correr falando em voz baixa "Comunista? Meu filho? Ele poderia ser homossexual, escoteiro, até mesmo jogador de futebol, mais filho meu não se torna comunista!”.
Anos mais tarde na faculdade o filho cria uma chapa socialista e ganha as eleições do grupo estudantil, mais logo perde a vontade e seus discursos começam a ficar menos empolgantes, larga o grupo quando consegue emprego numa empresa multinacional e se apaixona por uma linda menina estudante de psicologia. Atualmente é casado tem dois filhos, e sempre fica de olho no que os filhos estão lendo. Às vezes se lembra com saudades da sua luta em busca de uma sociedade mais igualitária, mesmo que sua luta tenha sido só uma noite, contra o seu pai.