, a verdade era que ele só conhecia o amor depois de perdê-lo. Não era desfrutando, vivendo, amando, e sim sofrendo. Sofrer por amor era a única maneira que ele tinha de aprender, por isso se entregava a cada paixão para que quando terminasse, pudesse sentir toda a compreensão amorosa que ela poderia oferecer. Nunca tinha dito “eu te amo” nem para sua mãe, tinha medo que sua psicologia de pequeno-burguês revelasse algum complexo de Édipo, tinha decidido, não diria “eu te amo” a ninguém, evitando assim mentiras dolorosas. Não mentia a suas amantes, nem mesmo as mentiras do dia-a-dia, falava toda a verdade, o que constantemente lhe causava brigas e desentendimentos, não tinha paciência para isso, sua aparência e a herança deixada pela família poupavam-no de perder tempo com mulheres que não o divertiam mais. O que desejava era o mistério do entendimento, quando conhecia uma mulher tentava decifra-la aos poucos, como num jogo, isso o excitava mais que o sexo, depois de conseguir entrar em sua alma, a dispensada, não tinha mais serventia, afinal, do que valia uma mulher com a alma descoberta? Muitos discordavam dele, o chamavam de Don Juan, mau-caráter, cafajeste, aceitava, sabia que já tinha feito várias mulheres sofrerem, algumas até imploraram pelo seu amor, fazia-as chorarem, suplicarem, pois assim era a única maneira delas amarem. Quando acabava, apenas sorria deliciando-se com o conhecimento. Sentia-se um mensageiro, um professor do verdadeiro amor.
Até o dia que descobriram a sua. Amou sem precisar sofrer, sofreu sem precisar amar.
Por que apesar de tudo, ele era.
Ele tinha alma.