Dia lindo, calor, não sei por que fui sair, como minha mãe diz “com a roupa de sempre”, ou seja, calça jeans, all star e camiseta de banda. Ainda bem que a camiseta em questão era azul, do Radiohead e não preta como as minhas dos Ramones. Subo a rampa e chego ao lugar desejado, lugar aonde vou bater meu cartão, ou melhor dizendo, a minha carteirinha a cada duas semanas, biblioteca pública. Deixo minha bolsa no guarda-volume digo um “obrigado” automático para o guardinha e caminho ao encontro dos livros. Normalmente dou uma olhada nas estantes dos livros “mais procurados”, mais dessa vez sabia exatamente o que queria, poderia procurar sozinha, depois de tanto tempo vasculhando autores e títulos, conhecia a ordem que se encontravam, o problema é que não sabia ao certo aonde encontrar o autor que eu desejava. Então para economizar tempo (para não dizer à preguiça que eu estava) achei melhor perguntar para algum estagiário.
Hum, aquele estagiário bonitinho está logo ali, normalmente ele fica na seção de história, ou seria filosofia? Cortou o cabelo, não está mais parecendo um metaleiro seguidor do diabo, legal.
- Boa tarde, eu queria achar um livro...
- Pode falar.
- Deixa pegar o papel aqui... Pronto, o nome é “As aventuras de um comunista”, o autor é John dos Passos.
- “As aventuras de um comunista”?- ele riu - Parece nome de desenho da Disney.
- É... Hehehe - “Idiota” pensei comigo.
- Vou olhar aqui no computador.
- Tá.
Ele se virou e aconteceu uma coisa que eu odeio, é quando uma pessoa fala alguma coisa que eu não consigo ouvir e não querendo ser mal educada, finjo que entendi dando uma risadinha forçada. Deve ter sido engraçado, pois ele riu a beça, será que ele tava tirando com a minha cara?
- O.k me segue...
Eu segui, com má vontade, mais segui. Literatura americana, claro, devia ter pensado que estaria aqui.
- John, John dos Passos... Aqui achei. Tem três exemplares, espero que você não tenha renite, pois parece está bastante empoeirado.
- Não, não tenho, vou pegar esse aqui, é mais leve, não é de capa dura, obrigada.
- Que nada, disponha. Aliás, boa banda hein? – falou apontando para a minha camiseta.
- É... - respondi com um sorriso.
- Beleza, espero te encontrar outra vez por aqui, até mais.
- Até.
Fiquei ali fingindo prestar atenção nos livros.
É por isso e por outras que eu adoro ir à biblioteca.